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Escassez global de contêineres já atinge exportações brasileiras

O intenso ritmo das exportações brasileiras de alimentos, em particular carne, frutas, café e outros produtos que dependem de contêineres, já esbarra em limitações logísticas provocadas pela retomada do comércio internacional no pós-pandemia.

Com o aumento das trocas comerciais em meio ao maior tempo para o desembaraço de cargas nos principais portos do mundo, esses setores têm enfrentado dificuldade para encontrar contêineres vazios para embarcar sua produção, ocasionando aumento de custos de frete e logística.

“Muitos estão alegando que os armadores estão, digamos assim, racionando as operações para o Brasil como um todo e mais ainda para o Rio Grande do Sul por estar na ponta do país. E isso gera toda uma dificuldade porque as empresas têm todo um planejamento para atender o mercado interno e externo. Não podemos dizer para as aves pararem de crescer”, reclama o presidente executivo da Associação Gaúcha de Avicultura, José Eduardo dos Santos, ao lembrar que o setor exporta cerca de 40% da sua produção.

Diante da situação, ele destaca que algumas empresas já cogitam reduzir os abates para reduzir os custos com estocagem, uma vez que os produtos de exportação atendem a características específicas de cada mercado. Só entre os dois maiores importadores, China e Arábia Saudita, as diferenças já são gritantes.

Enquanto o primeiro tem preferência por pés e pescoço de galinha, o segundo consome frangos mais leves e preteridos pelo consumidor brasileiro. “Nós já temos uma redução que algumas empresas, por iniciativa própria, tiveram para reduzir impactos com o custo do milho e agora vai ter mais uma redução por falta de contêiner porque não dá pra redirecionar para ao mercado interno. Cada país tem uma característica de corte, peso embalagem…”, detalha José.

 

Problema antigo

A falta de contêineres não é uma novidade no Brasil. O diretor-executivo da Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Empresas Transportadoras de Contêineres, Wagner Rodrigo Cruz de Souza, explica que devido às diferenças entre as importações e as exportações brasileiras, sempre houve falta de contêineres de vinte pés usados para o setor de alimentação. Desde março, contudo, isso se agravou devido ao maior tempo de retenção das cargas, sobretudo na China e nos EUA.

“Tem portos em que o desembaraço saiu de 2 a 3 dias para 16 e isso ocasiona uma maior retenção de cargas e esse fator colabora para que falte contêineres vazios. Se fosse uma situação normal, a quantidade de contêineres que os armadores dispõem daria tranquilamente para atender o mercado mundial”, explica Souza.

Enquanto as exportações brasileiras de alimentos se dão em contêineres de 20 pés, as importações, concentradas em produtos industrializados, demandam contêineres de 40 pés. O agravamento dessa diferença, explica o diretor-executivo da ABTTC, gera maior custo logístico pois exige que os armadores transportem cargas vazias, sem frete contratado.

Em nota, a Maersk, uma das principais companhias de frete marítimo do mundo, calssificou a situação como uma “tempestade perfeita”. “Estamos em uma tempestade perfeita para o fluxo global de contêineres, já que os consumidores estão comprando mais produtos brasileiros do que nunca em todo o mundo.

Desde o terceiro trimestre do ano passado, houve um aumento na demanda global. Para o Brasil, os compradores no exterior estão focados em alimentos brasileiros e produtos básicos como café, algodão, resina, papel e madeira. Essa demanda sem precedentes impactou os fluxos de contêineres para o setor de logística global”, avaliou a companhia em comunicado.

Para o setor de proteína animal, a situação é ainda mais grave diante da situação do mercado interno. Com custos elevados e uma economia debilitada no país, a indústria tem sentido dificuldades para repassar preços e as exportações têm sido a principal válvula de escape para escoar a produção.

“As carnes, até agora, os números estão muito bons de exportação. Mas pode piorar porque a tendência aumentar bastante o ritmo de demanda global no segundo semestre e precisamos ficar atentos para ver se isso não vai virar uma trava para nós. A gente vê que já começam a aparecer problemas”, pontua César de Castro Alves, consultor de agronegócio do Itaú BBA.

 

Lentidão nas exportações

No Rio Grande do Sul, a ASGAV aponta que a situação tem levado a um escoamento de cerca de 40% do fluxo normal de exportações, com queda de 25% na produção. “Essa questão de contêineres é nevrálgica para nós porque a gente precisa ter como colocar essa carne lá. Ela está sendo produzida aqui, a demanda tem, mas os custos são absurdos o quanto aumentou”, completa César.

Além da dificuldade logística de remanejar os contêineres, o setor de transporte marítimo também tem repassado o aumento no custo com combustíveis e parte dos prejuízos apurados no início da pandemia, ainda em 2020.

“Nós tivemos um grande período que as embarcações ficaram paradas e isso também representa um custo. Então todo esse movimento que ocorreu, principalmente no início da pandemia, colaborou para que o custo que os armadores tiveram tivesse que ser recompensado mais adiante”, observa Wagner.

Ele ressalta que, diante do cenário atual, a crise com a falta de contêineres deve perdurar por mais alguns meses, mas que as empresas de transporte já estão se movimentando para fazer frente ao aumento do volume do comércio mundial. Globo Rural entrou em contato com o Centro Nacional de Navegação Transatlântica (Centronave), que reúne empresas do setor, mas não teve retorno.

De acordo com conselheiro da Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres (Abratec), Caio Morel, o mercado mundial já registra um aumento nas encomendas de navios e de contêineres, mas a resposta do setor demanda tempo.

“Esses conteineres são produzidos na China e eles têm um time frame para serem construídos e aumentar a capacidade é difícil. Tem que trazer recursos de diversos lugares. Então essa é uma roda que começa a girar muito devagar e depois ganha aceleração”, explica Morel.

Enquanto isso, as empresas temem uma possível piora da crise diante do aumento das exportações nos próximos meses. “Eu digo que pode piorar porque estamos em ritmo de evolução e se você tem um impacto que gere entrave, mais os danos do mercado interno, isso gera uma desestruturação no planejamento comercial das empresa, que vão ter que rever e buscar algum tipo de adequação”, conclui o presidente-executiva da Asgav.

Globo Rural também entrou me contato com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), mas não teve retorno.

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