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Cadeia global de suprimentos pode ficar mais bagunçada. Culpa do navio que fechou o Canal de Suez

Canal de Suez é uma das principais rotas de comércio do mundo, parada desde a última terça-feira devido ao incidente

A interrupção da circulação pelo Canal de Suez, no Egito, por causa de um navio encalhado deve provocar atrasos e gerar custos extras para as empresas de logística, dizem executivos do setor, destacando a crescente pressão sobre as cadeias globais de suprimentos.

Os preços do petróleo subiram nesta quarta-feira, enquanto as ações de empresas ligadas ao transporte de mercadorias caíram. As autoridades egípcias continuam tentando desbloquear uma das principais rotas de comércio do mundo, parada desde a última terça-feira devido ao incidente.

Um pequeno atraso no desbloqueio do Canal de Suez pode ter, segundo executivos, um impacto descomunal sobre as cadeias globais de suprimento. O incidente ocorre em um momento em que já há pressão devido aos efeitos contínuos causados pela pandemia de covid-19.

O Canal de Suez é uma rota comercial vital para navios petroleiros e porta-contêineres, que transportam bens como roupas, eletrônicos e maquinário pesado entre a Ásia e a Europa. Cerca de 19 mil embarcações passaram pelo local em 2020, de acordo com a autoridade que administra o canal.

O fechamento da passagem pode afetar especialmente a indústria de energia. Cerca de 10% do comércio marítimo de petróleo passou em 2018 pelo Canal de Suez e pelo duto Sumed — ou Suez-Mediterrâneo, de acordo com dados da Administração de Informação de Energia dos EUA.

Dezenas de petroleiros estão presos no congestionamento que se formou nos dois lados do Suez por causa do incidente, segundo a Kpler, uma empresa de dados sobre commodities.

Pessoas do setor dizem que pelo menos seis navios que transportavam gás natural liquefeito dos EUA, do Catar e do Egito para a Europa e a Ásia ficaram presos. Elas, porém, disseram que não deve haver grandes problemas se a embarcação encalhada for retirada do canal rapidamente.

“Não é um grande problema se for corrigido hoje. Se durar, pode ser interessante”, disse um trader do setor de gás.

Enquanto isso, as ações de algumas grandes empresas de transporte marítimo caíram. A Mitsui O.S.K Lines Ltd., por exemplo, viu seus papéis recuarem 4,6%, em meio às expectativas de que o bloqueio pode provocar atrasos e elevar os custos.

Cerca de 30 navios de contêineres cruzam o Canal de Suez todas as semanas levando produtos da Ásia para a Europa. Segundo Lars Jensen, presidente-executivo da Sea Intelligence Consulting, com sede na Dinamarca, essas embarcações movimentam cerca de 380 mil contêineres.

“Se considerarmos que os navios estão cheios, isso significa 55 mil contêineres da Ásia para a Europa diariamente. A expectativa é que demore dois dias para desobstruir o canal, o que causará um atraso de 110 mil contêineres”, afirmou Jensen. “Isso aumenta o risco de vermos congestionamentos nos portos europeus daqui uma semana.”

O Clarksons Platou Securities prevê que, se o navio permanecer preso por dias, os fretes subirão ainda mais. As taxas cobradas para transportar produtos da Ásia para a Europa já atingiram níveis recordes nos últimos quatro meses, em meio à demanda crescente de gigantes do comércio eletrônico, como Amazon e Target, após a flexibilização dos lockdowns decretados para conter a covid-19.

“Embora esperemos que isso seja um efeito de duração curta, a indústria de porta-contêineres já está muito apertada em capacidade, com um congestionamento portuário significativo em todo o mundo”, disse o banco de investimento.

Outra indústria que deve ser afetada é a de fabricante de eletrônicos, que já está sofrendo com uma crise de fornecimentos de chips, acompanhada de um aumento na demanda por consoles e notebooks durante os lockdowns. Mas ainda não se sabe qual será o impacto do fechamento do Canal de Suez para o setor.

Alan Priestley, analista de tecnologia na Gartner Research, explicou que muitas das fabricantes de chips transportam seus produtos por via área. Por isso, o problema no Canal de Suez “tem mais probabilidade de afetar os produtos acabados do que as próprias fabricantes de chips”.

Picos e quedas na demanda por chips não são incomuns. Mas, nos últimos meses, a indústria observou efeitos exagerados aos quais não está acostumada, disse Tim Whitfield, chefe de Engenharia do Imagination Technologies Group.

Ele afirmou que o fechamento do Canal de Suez foi o mais recente em uma sequência de eventos problemáticos para o fornecimento de chips. No início deste mês, um incêndio foi registrado em uma importante fábrica de chips automotivos no Japão.

“Parece haver uma tempestade perfeita no momento”, disse Whitfield.

Fonte: Valor Econômico

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