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Setor de navegação prevê crise até 2º semestre de 2022

Centronave rebate críticas da indústria e diz que armadores já operam na capacidade máxima

Em meio ao caos logístico global e sob forte pressão por conta da disparada nos fretes marítimos, as empresas de navegação afirmam que já estão operando na capacidade máxima e fazendo tudo a seu alcance para amenizar a crise. A expectativa, porém, é que a situação. só comece a voltar ao normal a partir do segundo semestre de 2022, diz Claudio Loureiro de Souza, diretor-executivo do Centro Nacional de Navegação Transatlântica (Centronave), entidade que reúne grupos como Maersk, MSC e Hapag Lloyd.

Em conversa com o Valor, ele rebate questionamentos da indústria em relação à concentração do setor, afirma que os próprios críticos passaram por consolidação e diz que a resolução da crise passa também por uma liberação mais célere de navios e contêineres por parte de autoridades brasileiras e importadores.

“Nossa percepção é que a crise não vai mais piorar. Há algumas semanas, havia uma forte preocupação de que os grandes congestionamentos dos portos chineses chegariam ao Brasil como um tsunami. Mas hoje a avaliação é que já aconteceu o que tinha que acontecer. A normalização será gradual, mas a crise deve durar até o segundo semestre de 2022.”

A cadeia logística global vive forte turbulência desde o início da pandemia. De um lado, a covid-19 provocou o fechamento de portos, o afastamento de funcionários e uma maior demora na liberação dos contêineres e navios, atrasando os fluxos. De outro, a demanda por bens de consumo disparou, impulsionada pelo comércio on-line, o home office e o menor gasto das famílias com outras despesas, como serviços. O resultado é um verdadeiro caos no comércio marítimo, com atrasos constantes nas escalas, dificuldade das empresas para conseguir espaço nos navios, além dos fretes em patamar recorde.

Em meio à crise, os grupos de navegação têm sido alvo de intensa pressão. Uma das acusações é que a concentração no mercado global de armadores, ocorrida nos últimos anos, é uma das causas do cenário atual. No Brasil, não há ações de órgãos antitrustre em curso, tal como em outros países, mas há críticas de parte da indústria e do agronegócio.

Souza refuta os questionamentos e diz que as empresas estão utilizando sua capacidade total, tanto de navios, quanto de contêineres – inclusive, embarcações e equipamentos que normalmente já teriam sido aposentados estão sendo reparados e usados para garantir a oferta de espaço. “O problema não é do armador, é da cadeia logística global. As companhias estão trabalhando para mitigar os gargalos, mas são fatores que não estão sob controle das empresas”, afirma.

Dados do setor apontam que, no segundo trimestre de 2020, havia capacidade ociosa de 10% da frota marítima global. Já neste ano, a
taxa é praticamente zero.

Em relação às acusações de concentração de mercado, ele diz que o processo foi fruto da crise econômica vivida pelo setor nos últimos nos, que levou à falência e à fusão de grupos. Souza também aponta que outros segmentos – inclusive atuais críticos das empresas de navegação – também passaram por consolidação.

“Estamos vivendo a infância da concentração no mundo da navegação, ainda vai acontecer muito mais. Na indústria aeronáutica, por exemplo, hoje temos dois fabricantes, nem por isso o preço de passagens aéreas subiu. Vemos isso na indústria farmacêutica, na automobilística, em todas as indústrias. Até mesmo segmentos que hoje reclamam são, eles mesmos, objeto de concentração. É assim que o mercado funciona, há uma busca por escala e rentabilidade.”

No Brasil, a percepção é que alguns fatores poderiam colaborar para uma retomada dos fluxos logísticos. Um deles seria uma liberação mais rápida de navios quando há suspeita de infecção.

“Não podemos ter navios parados 14 dias em quarentena. Temos total respeito às regras sanitárias, mas não é navio que pega covid, é o tripulante. Pedimos que o navio possa descarregar”, afirma ele. Além disso, Souza defende uma liberação mais rápida dos contêineres por parte da alfândega e dos importadores.

Apesar da forte tensão no mercado, Souza indica sinais da recuperação. Um deles é a retomada da produção de contêineres, que quase parou em 2020. Outro fator é que os navios encomendados pelos armadores deverão chegar ao mercado. “Se fala em 2023, mas é possível que alguns cheguem no fim de 2022.” Além disso, o avanço da vacinação e a retomada de hábitos de consumo anteriores à pandemia tendem a equilibrar a demanda.

Um fator importante a se observar, na avaliação do executivo, é a situação nos EUA, que hoje é o epicentro da crise logística mundial. “A grande incógnita é se a demanda americana vai se atenuar ou continuar acelerar. A expectativa é de desaceleração”, diz

 

Fonte: Valor Econômico

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